Nosso foco

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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Escroqueria


27/04/2010 07h33 - Atualizado em 27/04/2010 10h43
BBC
"A psicanálise cura tanto quanto a homeopatia, o magnetismo, a radiestesia, a massagem do arco do pé, o exorcismo feito por um sacerdote ou uma oração diante da Gruta de Lourdes"
Michel Onfray
Um novo livro que acusa o pai da psicanálise, Sigmund Freud, de ser mentiroso, fracassado e defensor de regimes totalitários está criando polêmica na França.

De acordo com o filósofo francês Michel Onfray, autor de "Le Crépuscule d'une idole, l'affabulation freudienne" (O Crepúsculo de um Ídolo, a Fábula Freudiana), a psicanálise é comparável a uma religião e sua capacidade de curar as pessoas é semelhante à da homeopatia.

O livro começou a ser vendido nesta semana nas livrarias francesas, mas já havia começado a gerar controvérsia antes mesmo de sua publicação. Psicanalistas acusam Onfray de cometer erros e ignorar fatos para defender a sua tese.

'Necessidades fisiológicas'
O conhecido filósofo, que escreveu "Tratado de Ateologia" (publicado também no Brasil), acredita que Freud transformou seus próprios "instintos e necessidades fisiológicas" em uma doutrina com pretensão de ser universal.

Mas, para Onfray, a psicanálise seria "uma disciplina verdadeira e justa no que diz respeito a Freud e ninguém mais".

Freud cobrava US$ 600 por uma sessão e era incapaz de tratar dos pobres, escreve Onfray
Onfray diz que Freud fracassou na cura de pacientes que ele mesmo atendeu, mas ocultou ou alterou suas histórias clínicas para dar a impressão de que o tratamento havia sido bem-sucedido.

Ele afirma, por exemplo, que Sergei Konstantinovitch, indicado por Freud como "o homem dos lobos", continuou fazendo psicanálise mais de meio século depois de ter sido supostamente curado por Freud.
E diz que Bertha Pappenheim, conhecida como "Anna O." e apresentada por Freud como um caso em que o tratamento contra histeria e alucinações funcionou, continuou tendo recaídas.

O efeito do placebo constitui 30% da cura de um medicamento.
Por que a psicanálise escaparia dessa lógica?"
Onfray
Durante um debate com a psicanalista francesa Julia Kristeva publicado esta semana no jornal francês "Le Nouvel Observateur", Onfray rejeitou a noção de que o método de Freud "cura todas as vezes".
"A psicanálise cura tanto quanto a homeopatia, o magnetismo, a radiestesia, a massagem do arco do pé, o exorcismo feito por um sacerdote ou uma oração diante da Gruta de Lourdes (onde há relatos de que Nossa Senhora teria aparecido)", afirmou.

"Sabemos que o efeito do placebo constitui 30% da cura de um medicamento", acrescentou. "Por que a psicanálise escaparia desta lógica?"

Dinheiro, sexo e fascismo
Além de questionar o método de Freud, Onfrey criticou sua personalidade e o apresenta como alguém que foi capaz de cobrar o equivalente ao que seriam hoje US$ 600 por uma sessão, e incapaz de tratar dos pobres.

Onfray nos insulta quando diz que a psicanálise não cura. O que fazemos todos nós em nossos consultórios (...) senão ajudar o sujeito a se converter em ator de sua própria história?"
Serge Hefez
O filósofo francês diz que acredita que Freud tinha preconceito contra homossexuais e com um interesse especial em temas como abuso sexual, complexo de Édipo e incesto, e que dormia com a cunhada.
Em termos ideológicos, Onfray defende a tese de que Freud flertou com o fascismo e diz que em 1933, ele escreveu uma dedicatória elogiosa para Benito Mussolini: "Com as respeitosas saudações de um veterano que reconhece na pessoa do dirigente um herói da cultura."

Ele afirma que o criador da psicanálise procurou se alinhar com o chanceler Engelbert Dollfuss, que instaurou o "austrofascismo" no país, e também às exigências do regime nazista.

'Ódio'
O livro gerou uma onda de troca de acusações e protestos nos círculos intelectuais da França.
A historiadora e psicanalista Elisabeth Roudinesco afirmou em artigo em "Le Nouvel Observateur" que o novo texto de Onfray está "cheio de erros" e "rumores".

Roudinesco acusou Onfray de ter tirado as coisas do contexto e afirmou que Freud "de maneira alguma apoiou o fascismo e nunca fez apologia dos regimes autoritários".

"Quando sabemos que 8 milhões de pessoas na França tratam-se com terapias derivadas da psicanálise, está claro que no livro e nas palavras do autor há uma vontade de causar danos", disse.

Em seu debate com Onfray, Kristeva defendeu a psicanálise como um mecanismo capaz de tratar de problemas como a histeria, o complexo de Édipo ou comportamento anoréxico ou bulímico, entre outros.
"Onfray nos insulta quando diz que a psicanálise não cura", escreveu o psiquiatra e psicanalista Serge Hefez no semanário "Le Point". "O que fazemos todos nós em nossos consultórios, centros de terapia familiar, conjugal, nossos hospitais (...) senão ajudar o sujeito a se converter em ator de sua própria história?"
Hefez disse que "a psicanálise cura, é um tratamento útil e vivo praticado por milhares de terapeutas conscienciosos que conhecem fracassos, sucessos parciais e sucessos."

Onfray respondeu que várias reações contra seu livro evitam responder seus argumentos centrais e, em um artigo publicado no jornal francês "Le Monde", perguntou se era impossível fazer uma leitura crítica de Freud.
"Com este livro, alguns amigos haviam me adiantado o ódio porque me metia com o bolso", escreveu. "Hoje eu me dou conta do quão certos estavam."

Cheio de Arte



O Fetiche Freud


Por Leonardo Nascimento


O trabalho do sociólogo não é outro senão aquele de desmistificar o mundo social. Se um químico vai à TV falar sobre o ácido presente no limão, esclarecendo os possíveis perigos do sumo do limão para a pele em um dia de sol, a dona-de-casa rapidamente acreditará no que é dito e tratará de se proteger. Entretanto, se um sociólogo se propõe a analisar alguns aspectos da vida social, mostrando, entre outras coisas, “que o problema fundamental não é o crime, e sim a lei, não é o divórcio e sim o casamento, não é a discriminação social e sim a estratificação por critérios de raça”, etc. As pessoas não terão a mesma opinião em relação às nossas colocações técnicas.

A questão não é diferente em relação à análise das obras culturais e, entre elas, a psicanálise. A publicação do livro “O crepúsculo de um ídolo: a fabulação freudiana” (Le Crépuscule d'une idole, l'affabulation freudienne. Editora Grasset, 2010) de autoria do filósofo francês Michel Onfray, tem causado uma curiosa reação social na França e –seguindo a velha reverberação colonizadora das notícias– nos dois maiores reinos psicanalíticos fora de lá: Brasil e Argentina.

As descrições de Onfray sustentam a tese de que “o freudismo e a psicanálise repousam sobre uma fabulação de alta envergadura apoiada sobre uma série de lendas”. Freud não criou sua teoria a partir da sua prática clínica – ele criou uma psicologia literária baseada em sua autobiografia existencial. Freud não clinicou apenas com a psicanálise – a prescrição da cocaína, a eletroterapia, a terapia por banhos e a imposição de mãos estão entre suas práticas. Freud não curou – ele dissimulou resultados para esconder seus fracassos porque o divã cura apenas dentro dos limites do efeito placebo. Freud não foi um libertário da sexualidade – sua obra legitimaria um ideal ascético, uma falocracia misógina e uma homofobia. Freud não foi um liberal na política – ele escreveu análises contra o comunismo, o marxismo, os bolcheviques, a experiência marxista-leninista, mas sequer uma linha contra Hitler, o nacional-socialismo ou contra o anti-semitismo.

As teses chamam atenção pela clareza e pela virulência em contradizer crenças arraigadas em relação à psicanálise. No entanto, muitas de suas conclusões, são elementos que já estavam de certo modo dispersos em outros livros e pesquisadores, sobretudo no também polêmico “O Livro Negro da Psicanálise" ("Le Livre Noir de la Psychanalyse", Editora Les Arènes, 2008). Ainda assim, o livro tem o mérito inegável de direcionar uma crítica à uma “teoria” que sempre quis escapar a toda relativização filosófica e sociológica.

Em pouco mais de 100 anos a psicanálise dispersou-se pela cultura ocidental como um vírus, de modo que tudo à nossa volta parece ser psicanalítico e confirmar a veracidade da própria psicanálise. Entretanto, os filmes, os livros, pinturas, etc. são “psicanalíticos” porque foram gestados dentro de uma cultura previamente seduzida pela própria psicanálise: Freud e a psicanálise criaram uma cultura à sua imagem e semelhança.

Portanto, uma apropriação crítica da psicanálise implicaria em desconstruí-la de dois pontos de vista. Um interno à teoria: demonstrando que sua gênese deve ser pensada circunscrita a um contexto histórico muito específico e à própria figura do seu fundador, Sigmund Freud. E uma crítica em relação aos efeitos da prática social da psicanálise. Os efeitos sociais dos seus artífices – os psicanalistas – e, também, no conjunto de agentes sociais direta ou indiretamente ligados a esta “práxis” – semelhante ao que foi denominado de “psicanalismo” por Robert Castell.

Com isso quero dizer que não podemos desconsiderar a existência de uma luta material e simbólica em jogo ao tratarmos criticamente a psicanálise. Há pessoas cujas vidas dependem dos lucros exorbitantes do “tratamento” psicanalítico. E não me refiro apenas aos psicanalistas e seus luxuosos consultórios, mas a todo um conjunto de agentes que participam deste processo: editoras, livrarias, entidades de formação em psicanálise, os secretários dos referidos consultórios, estudantes de psicologia, etc. Há guethos psicanalíticos por aí: congressos, pós-graduações, lançamento de livros, seções nas bibliotecas, convescotes psicanalíticos, etc. E todos eles dependem da existência social da psicanálise. São todos estes atores que sustentam a fábula quimérica de que nos fala Michel Onfray. São eles que refazem o trabalho social de produção da crença na própria psicanálise. E há, não podemos esquecer, aqueles que buscam o serviço psicanalítico e que, como bem sabemos, representam uma fatia materialmente abastada da nossa sociedade. Pessoas cuja inserção econômica caminha lado a lado com o tipo de problemas psicológicos que elas apresentam. Lembro do debate em um serviço de psicologia de Salvador, que se propunha a ser uma “clínica popular”. Ocorriam brigas horríveis entre os psicanalistas e os psicólogos comportamentais, pois os primeiros tendiam a repassar os pacientes mais miseráveis para os segundos com a justificativa de que aqueles pacientes muito pobres “não entravam em análise”. 

Por fim, diante da leitura do livro de Michel Onfray, surge para nós outro problema mais fundamental: não basta nos contentarmos em “provar” o charlatanismo da psicanálise ou do seu pai fundador Sigmund Freud. Ao contrário, seria preciso perguntar como um saber, com as características da psicanálise, conseguiu e ainda consegue – dentro de certos países e grupos – estar disseminado e adquirir um interesse relativamente expressivo. O “crepúsculo de Freud”, anunciado por este livro, talvez aponte, se pudermos pensar com Michel Foucault, que o “regime de verdade” da psicanálise esteja passando, em detrimento de outros regimes que ainda não conseguimos vislumbrar. 






29/04/2010

Freud no divã


O sempre polêmico filósofo francês Michel Onfray aprontou mais uma. Acaba de lançar o livro "Le Crepuscule d'une Idole - L'Affabulation Freudienne" (O Crepúsculo de um Ídolo - A Fabulação Freudiana), no qual desfere fortes ataques à vida e à obra de Sigmund Freud (1856-1939), o pai da psicanálise. Mesmo antes da chegada do catatau de 624 páginas às livrarias, no último dia 21, a França vivia clima de guerra intelectual, com a comunidade psicanalítica (principalmente freudianos e lacanianos) se mobilizando para responder à ofensiva.
O objetivo de Onfray em "Le Crepuscule", cujo título já escancara sua inspiração nietzschiana, é demonstrar que "a psicanálise funciona como uma metafísica de substituição num mundo sem metafísica e oferece elementos para a construção de uma religião numa época do pós-religioso". Segundo o filósofo, as instituições da psicanálise foram construídas por seus "sacerdotes" num esquema próximo ao da religião cristã, com seus patriarcas trabalhando diligentemente para esconder o que poderia vir a macular o mito --daí a própria razão de ser do livro, que é desconstruir as falsificações.
Confesso que tenho simpatias por Onfray. Não tanto pela qualidade de sua obra, da qual li pequena fração, mas pela capacidade de colocar o dedo nas feridas intelectuais francesas e torcê-las sem dó. Neste caso, porém, só lhe dou meia razão.
É claro que a psicanálise não é nem nunca foi uma ciência. E quem frequentar um psicanalista em busca de cura para doenças mentais não apenas joga dinheiro fora como ainda pode estar retardando intervenções médicas necessárias. Parece-me entretanto historicamente falso, além de injusto, negar a Freud um lugar no panteão dos pioneiros. Afinal, ele foi o primeiro a identificar o inconsciente e ressaltar sua importância nos processos mentais humanos --o que não é pouca coisa. Receio, porém, que já esteja me antecipando. Voltemos às críticas de Onfray. Depois retomo a apreciação do que, a meu ver, sobrevive de Freud.
Pela reportagem que o caderno Mais! (só para assinantes do UOL e da Folha) publicou no último domingo, "Le Crepuscule" não tem muito de inédito. Ele como que retoma, agora sob coreografia do polêmico filósofo, objeções epistemológicas e argumentos "ad hominem" que já haviam sido publicados em 2005 em "Le Livre Noir de la Psychanalyse" (O Livro Negro da Psicanálise), obra coletiva que reúne 40 artigos contra Freud.
E o próprio "Livre Noir" não é exatamente uma novidade. Ele é uma tradução para o francês dos humores antipsicanalíticos que emanam do mundo acadêmico norte-americano, onde a visão preponderante é a de que Freud nunca passou de um charlatão.
Isso foi algo que me chamou a atenção durante o ano sabático de 2008-2009 que passei na Universidade de Michigan. Ali ninguém fala de Freud, que praticamente não consta dos programas de psicologia, seja de graduação ou de pós, de nenhuma das grandes universidades que consultei. (Além de Michigan, dei uma olhadinha em Stanford e Yale, que têm os dois mais conceituados departamentos de psicologia dos EUA). Com um pouco de sorte, o nome do pensador vienense talvez seja mencionado --e bem "en passant"-- em algum curso introdutório. O resto é basicamente neurociência, ciência cognitiva, psicolinguística, um pouquinho de nada de sociologia e, na parte clínica, terapias não psicanalíticas.
O contraste com o Brasil é gritante. Aqui, a julgar pelo programa da PUC-SP, Freud e sucessores, como Jung e Melanie Klein, ainda compõem algo como um terço do currículo. Não creio que a situação seja muito diferente nas outras instituições.
O ocaso de Freud nos EUA (e em outros países que prestam mais atenção à ciência do que à metafísica) teve início nos anos 50, com o desenvolvimento dos primeiros fármacos psicoativos. A constatação de que drogas eram capazes de provocar alterações no psiquismo abriu toda uma nova avenida para pesquisas. Os antipsicóticos nos fizeram compreender melhor o sistema dopaminérgico. Depois vieram os antidepressivos e, com eles, foram destrinchados os sistemas da serotonina e das monoaminas. Ressonâncias magnéticas funcionais e tomografias por emissão de pósitrons completaram o arsenal do qual hoje a neurociência se vale para esquadrinhar o cérebro. Paixões, pensamentos e até o raciocínio lógico deixam cada vez mais de ser abstrações para tornar-se manifestações físicas no neurônios. É o triunfo do monismo.
Os avanços nesse campo foram tão rápidos e surpreendentes que há autores como George Lakoff afirmando que até mesmo as metáforas que utilizamos na linguagem têm existência material em nossas células nervosas. Diante de tão palpáveis evidências, fica mesmo difícil recorrer a conceitos algo nebulosos como complexo de Édipo, recalque, pulsão de morte e cura pela palavra.
Paradoxalmente, o próprio Freud, que jamais renunciou à pretensão de fazer ciência, teria aplaudido o avanço da psicofarmacologia. Em seu último livro, o inacabado "Esboço de Psicanálise", de 1938, ele escreveu: "O futuro provavelmente vai nos ensinar a influenciar diretamente as quantidades (psíquicas) de energia e sua distribuição no aparelho psíquico por meio de matérias químicas especiais. Talvez surjam ainda outras possibilidades ainda desconhecidas de terapia; por enquanto nós ainda não temos nada melhor que a técnica psicanalítica à nossa disposição e por isso ela não deve ser desprezada, apesar de suas limitações".
Aparentemente, esse futuro chegou --em que pese a forma ainda grosseira com que atuam os psicofármacos.
Do modo que foi formulada, a psicanálise jamais passou perto de ser uma ciência. Faltam-lhe metodologia, resultados e conteúdo empírico para reclamar estatuto epistemológico. E acho complicado até tentar reservar para ela o papel de saber curativo. Pelo menos para mim, é especialmente chocante a ideia de que o principal que havia a ser dito sobre o psiquismo humano foi dito por Freud mais de 70 anos atrás e, de lá para cá, nada de muito relevante surgiu. Se é verdade que as ciências duras, em especial as biológicas, padecem do defeito de olhar muito pouco para seu próprio passado --médicos raramente leem um texto com mais de cinco anos--, a psicanálise tem a falha de ser imune ao presente. A verdade já foi revelada pelo profeta vienense, não havendo mais nada (ou quase nada) a acrescentar.
E essa é uma característica que, na minha opinião, dá razão a Onfray quando afirma que a psicanálise se estruturou de forma semelhante às religiões --ou partidos políticos de esquerda, ouso acrescentar. Para prová-lo, basta conferir o elevado número de defecções, rompimentos e até excomunhões entre seus membros.
É claro que, numa sociedade livre, cada um pode ir atrás do que lhe faz bem. Se o fiel encontra conforto na missa, é perfeitamente legítimo que o neurótico busque alívio no divã. Dada, entretanto, a ausência de evidências científicas de que essas terapias funcionam para além do efeito placebo, relutaria bastante antes de introduzi-la na rede pública de atendimento.
Só que nem a precariedade epistemológica da psicanálise nem as várias picuinhas levantadas por Onfray, como as supostas infidelidades conjugais de Freud ou suas propaladas simpatias pelo fascismo, são suficientes para tirar do vienense o grande mérito de ter "inventado" o inconsciente. Os avanços da neurociência vão mostrando que esse conceito é ainda mais importante do que suspeitava o pai da psicanálise. Experimentos nesse campo já colocam em dúvida até a existência do livre-arbítrio. Ter percebido isso num mundo ainda vitoriano é definitivamente uma façanha. Apenas isso já bastaria para colocar Freud no mesmo patamar de outros grandes pensadores que, munidos apenas da especulação, contribuíram para que a humanidade pudesse lançar um novo olhar sobre si mesma.
Freud é um clássico --e a psicanálise, seu maior erro.
Hélio Schwartsman, 45 anos, é articulista da Folha. Bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve para a Folha Online às quintas.